📈 A Relação Não Linear entre o Preço da Ação e o Valor da Opção
- Nilson Marcelo

- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Muita gente que começa a investir em opções acredita que elas funcionam como as ações. Ou seja, se a ação sobe, a call também sobe. Se a ação cai, a put sobe. Parece simples, certo? Mas no mundo das opções, as coisas não funcionam exatamente assim.
Isso acontece porque o preço de uma opção não depende apenas do preço da ação. Ele é formado por dois componentes: o valor intrínseco e o valor extrínseco.
Pense no valor intrínseco como o dinheiro real que você ganharia se exercesse a opção agora. Por exemplo, se você tem uma call com strike em R$10 e a ação está valendo R$12, você teria R$2 de valor intrínseco. Já o valor extrínseco é como um bônus baseado em outros fatores: quanto tempo falta para o vencimento, quanto o mercado acha que a ação pode se mover e até o nível de medo ou euforia no ar. Esse valor extra é muito mais volátil e imprevisível.
Imagine que você comprou uma passagem de avião com a possibilidade de remarcá-la. O valor da passagem é o intrínseco. A possibilidade de remarcação é o extrínseco. Se o voo está próximo, a remarcação vale menos. Mas se ainda faltam semanas, ela tem valor. E se há expectativa de greve de pilotos ou mau tempo, essa remarcação pode valer ainda mais. Assim também funciona o valor extrínseco das opções.
Agora veja um exemplo real de como isso afeta o investidor.
Você compra uma call porque acha que a ação vai subir. E ela realmente sobe. Só que no dia seguinte, sua opção perde valor. Como assim? A explicação está na volatilidade implícita, ou IV. Se o mercado esperava grandes movimentos, como após um resultado trimestral, e depois o evento passa sem surpresa, o valor extrínseco despenca. Isso se chama IV crush. Ou seja, o mercado ficou mais calmo e o bônus da opção diminuiu.
O contrário também pode acontecer. Mesmo que a ação não se mova, o preço da opção pode subir se o mercado começar a esperar mais volatilidade. Por exemplo, se uma empresa vai anunciar uma fusão ou lançar um novo produto, o mercado pode começar a pagar mais caro pelas opções, esperando fortes oscilações nos preços.
Isso é ainda mais comum com opções fora do dinheiro, ou OTM, que são compostas 100% por valor extrínseco. Já opções dentro do dinheiro, ITM, com delta mais alto, se comportam de forma mais parecida com as ações.
Quer uma analogia simples?
Imagine que você tem um bilhete de loteria que ainda pode dar prêmio. Esse potencial de prêmio é o valor extrínseco. Ele depende do tempo até o sorteio e das chances de ganhar. À medida que o sorteio se aproxima e você ainda não ganhou, esse valor vai diminuindo. No final, se você não ganhou, o bilhete não vale mais nada. Assim como uma opção que expirou fora do dinheiro.
Por isso, operar opções exige mais do que apenas prever se a ação vai subir ou cair. Você precisa entender o comportamento do valor extrínseco, que é influenciado por tempo, expectativa, volatilidade e o sentimento do mercado. E isso é o que faz das opções um instrumento tão poderoso, mas também tão traiçoeiro.
Opções não seguem uma linha reta. Elas sobem, descem ou ficam paradas por motivos que vão além do preço da ação. Entender essa não linearidade é o primeiro passo para usar as opções com mais consciência e menos frustração.


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